E quando nascer
o ontem, as árvores
pingarão outono
nos quintais.
19/03/2007
BLOG COM OS POEMAS DE ROMULO VIANA
Todo o tempo teu está guardado
em mim, um cântaro de barro azul
perdendo a consciência.
Amanhã é pouca tinta
pra pintar o céu, embora sempre
haja erros para (re)fazê-lo.
O mundo corre nas janelas. É lá
que vou colher o dia não-vivido,
antes que a frieza das cortinas
engula o verde de sua polpa.
O espelho é o caminho
mais curto para o silêncio.
26/02/2007
a maciez das tuas primeiras
palavras perdidas.
O que queríamos não era nosso,
nem dos campos. Só a terra sabe
em qual raiz se afoga a tempestade.
Janeiro queima como a chuva,
o bastante para que teus dedos
brotem em algum lugar febril.
Ainda ontem desviei das horas. Elas só
medem tua cor enquanto ausência.
15/01/2007
Não há calçada boa o bastante para os pés do infinito,
Embora o esforço para que não fiquem descalços.
Eu nomeio as pedras antes de baixar os olhos,
Para que elas não me escolham enquanto as toco...
Pense um número, e divida-o por mim.
Considere que eu cheiro o inevitável, bebo o impossível,
Engulo o que resta do amanhã... Nunca houve um número
Que confirmasse a incipiência dos meus sonhos.
Dedos de tempo vergastando horas – a outra face do eterno,
Vista às avessas, a eternidade é rua natimorta,
Boca costurada com o barbante do destino.
Quantos nomes cabem em uma calçada? Algum deles
Sobra quando meus anseios tombam por indigestão?
Desconfiar do nada é acreditar no quociente do intangível:
Esquecer o número... não a resposta.
03/11/2006