segunda-feira, 19 de março de 2007

Chuva

E quando nascer

o ontem, as árvores

pingarão outono

nos quintais.


19/03/2007

segunda-feira, 12 de março de 2007

Auto-Retrato

Todo o tempo teu está guardado

em mim, um cântaro de barro azul

perdendo a consciência.


Amanhã é pouca tinta

pra pintar o céu, embora sempre

haja erros para (re)fazê-lo.


O mundo corre nas janelas. É lá

que vou colher o dia não-vivido,

antes que a frieza das cortinas

engula o verde de sua polpa.


O espelho é o caminho

mais curto para o silêncio.


26/02/2007

domingo, 4 de março de 2007

Infância

Ainda ontem, buscávamos

a maciez das tuas primeiras

palavras perdidas.


O que queríamos não era nosso,

nem dos campos. Só a terra sabe

em qual raiz se afoga a tempestade.


Janeiro queima como a chuva,

o bastante para que teus dedos

brotem em algum lugar febril.


Ainda ontem desviei das horas. Elas só

medem tua cor enquanto ausência.


15/01/2007

quinta-feira, 1 de março de 2007

Proposta para se plantar caminhos

Não há calçada boa o bastante para os pés do infinito,

Embora o esforço para que não fiquem descalços.

Eu nomeio as pedras antes de baixar os olhos,

Para que elas não me escolham enquanto as toco...


Pense um número, e divida-o por mim.

Considere que eu cheiro o inevitável, bebo o impossível,

Engulo o que resta do amanhã... Nunca houve um número

Que confirmasse a incipiência dos meus sonhos.


Dedos de tempo vergastando horas – a outra face do eterno,

Vista às avessas, a eternidade é rua natimorta,

Boca costurada com o barbante do destino.


Quantos nomes cabem em uma calçada? Algum deles

Sobra quando meus anseios tombam por indigestão?

Desconfiar do nada é acreditar no quociente do intangível:


Esquecer o número... não a resposta.


03/11/2006